31 de mai. de 2021

O ano que moldou a minha vida

Foto: Arquivo Pessoal


Eu costumo dividir a minha vida em duas partes: a de antes e a depois do intercâmbio.

É claro que a experiência é diferente para cada um, mas pra mim, foi realmente uma daqueles momentos decisórios de vida, sabe? Como nos filmes em que um personagem embarca em um avião e vê seu mundo mudar para sempre. 

E eu não mudaria nem mesmo tudo de ruim que aconteceu comigo, porque não vou mentir, a vida é difícil do lado de cá e é difícil do lado de lá também. Mas acho que as partes boas se sobressaem e eu vivi tantas coisas incríveis que vira e mexe esqueço e me faltam palavras. 

Eu tinha quinze anos quando embarquei sozinha para um outro continente. Deixei meu país pela primeira vez, para chegar em um outro que eu nem sabia falar a língua.

Tem gente que quando eu digo isso, me chama de corajosa. Mal sabiam que eu estava morrendo de medo, mas pensava comigo mesma: não pode ser pior do que a vida que já tenho. E ainda bem que eu pensei assim, porque do contrário, eu realmente teria deixado o medo me controlar e jamais viveria o melhor ano da minha vida.

No intercâmbio conheci tantas pessoas. Foram muitas as amizades que me moldaram, adultos que me criaram como filha e me ensinaram muito. Passei por tantos lugares que me arrancaram suspiros, sorrisos e lágrimas, lágrimas de felicidade, aquele contentamento de olhar pro céu e pensar "poxa realmente estou aqui e é real". 

Senti os primeiros flocos de neve tocarem meu rosto, vi o sol se pôr por de trás das montanhas, o sino da catedral tocar, o barulho dos trens, conheci um espírito natalino que antes só via nos filmes, tive meu primeiro pt, passei muita vergonha e também foi lá que dei meu primeiro beijo.

Mas é, eu fui roubada também, sofri bullying e xenofobia, passei fome com uma família que tinha uma dieta pra lá de estranha, não fiz muitos amigos na escola, desperdicei bastante tempo dentro do quarto me queixando ora por saudades do Brasil, ora por coisas que não estavam sendo como o planejado.

Coisas ruins me aconteceram por lá, da mesma forma que poderiam ter acontecido em qualquer lugar do mundo. Não estamos livres de uma vida sem defeitos. As coisas não dão certo sempre, mas é melhor, muito melhor ser triste em um lugar que você escolheu estar. Até mesmo na minha tristeza, eu me sentia grata, grata por ser a primeira da minha família a morar fora de terras tupiniquins, grata por estar abrindo meus olhos para um outro mundo, outra cultura, língua, costumes.

Me apaixonei por tudo que vi e vivi. E faria novamente tudo exatamente igual, caso tivesse a chance. Hoje sei que os erros e os acertos me trouxeram até aqui e me transformaram nessa minha versão de hoje que deixaria muito orgulho para meus outros eus do passado. 

Eu gastaria horas e dias e semanas tentando explicar a experiência que realmente foi meu intercâmbio e levaria outro bom tempo tentando mostrar o quanto esse um ano me mudou para sempre. Por isso, o conselho que dou é, vá e faça seu próprio intercâmbio, veja por si mesmo!

Tá tudo bem ter medo, só não está bem desistir de um sonho por conta disso.

Foto: Arquivo Pessoal


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